quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Sobre o medo


Sou uma pessoa medrosa. Não pensem vocês que eu tenho medo de morrer, medo de assaltante, essas coisas. Meus medos são peculiares. Eu, já beirando os 30, ainda tenho medo do escuro, morro de medo de assombração e – não riam – tenho um medo absurdo de sapos. Pode aparecer perto de mim com cobra, jacaré, aranha, o que for, mas uma perereca que seja já me paralisa. Tenho a impressão de que o bicho vai abrir a boca e me engolir em segundos. Isso é sério.

Não tenho medo de ser assaltada, mas acho que é porque de fato nunca fui. Certa vez, um engraçadinho veio me cantando na rua e eu mostrei o dedo. Quase que o moço leva meu dedo e minha dignidade embora, mas não consegui ter medo do moço de bicicleta que me disse palavras chulas e que poderia facilmente ser um estuprador.

Minha mãe diz “minha filha, você deve ter medo das pessoas vivas, não de pessoas mortas” mas, minha gente, quer coisa mais aterrorizante do que aquela Samara de O Chamado? Desconheço. A bendita povoa meus pesadelos de tempos em tempos. Parece coisa de criança, mas pra mim é pavoroso.

Tenho um leve medo de altura, medo de morrer de forma trágica (tipo a facadas, em incêndio), medo de coisas consideradas bobinhas como as que falei acima, mas penso assim: o medo é um dos sentimentos que nos move. Juntamente com o amor, o caráter e outros sentimentos e atitudes, é essa palavra de quatro letras que também nos constitui como humanos, apesar de tudo.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Estórias de Reveillón



Marcelo estava na mesa de poker no sábado à tarde. Cabelos grisalhos, alto, parecia muito compenetrado com o jogo, exceto nos instantes que percebi que me olhava insistentemente.
A primeira coisa que reparei foi nas mãos dele. Não encontrei alianças! Ufa...Fiquei alguns instantes “assistindo” o jogo e fui para a piscina aproveitar o restante do dia.
Assim que deitei na espreguiçadeira, ouvi uma voz masculina bem grossa, dizendo...
- Oi, qual é o seu nome?
- Qualquer um que termine com “ele”: Michele, Gabriele, Gisele...eu tenho a impressão que todos os homens acham muito sexy esse tipo de nome , você não acha?
- Pare de brincar comigo, quero te conhecer, gostei de você...quantos anos você tem?
- Hahahaha sensacional! Quantos anos você acha bom? Uns 28? Acho 28 razoável....
- O que você faz?
- Sucesso!!!
- Você vai continuar brincando...vou insistir: qual empresa você comanda?
- Sério mesmo que você acha que eu comando alguma coisa? Se eu comandasse minha vida, já estava de bom tamanho...só uma curiosidade: pra quê  você quer saber todas essas informações se estamos no meio do oceano e daqui a pouco o mundo vai acabar? Não é isso o que dizem? Em 2012 o mundo acabará...segundo informação que estão nos fornecendo, faltam 7 horas, 27 minutos e 56 segundos para o fim do mundo!
- Pelo menos seu humor é ácido...intrigante...
- Agora sim, você começa a me conhecer de verdade! Não era essa a ideia? Brincadeiras a parte, agora é a minha vez...Quem é você? Do que você gosta? Veio viajar com quem neste cruzeiro?
- Meu nome é Marcelo, sou empresário, tenho 39 anos, estou com meu irmão, minha cunhada e minha sobrinha. Você está sozinha na cabine?
- Acho que você já fez perguntas demais ...deixa eu descer para me arrumar para a festa de réveillon...nos veremos mais tarde...espero que antes do fim do mundo! Até mais!
10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1...Feliz 2012!!!!
 - Feliz 2012, Marcelo! Para você e para a sua esposa! Hoje à tarde na piscina, acredito que você tenha deixado a aliança na cabine...para não enferrujar...
- Hum...bom...quer dizer...feliz 2012...vou fumar um cigarro...
Entra ano, sai ano e as histórias se repetem...o  importante mesmo é que não perdi meu foco e continuo confiando (e muito) na minha intuição...
A par do episódio “Marcelo” aproveitei muito a viagem até o final. Esqueci do meu nome, da minha idade, da minha profissão, do horário, da rotina, mas  não “esqueci” da minha essência.
Depois de quase dez dias, as unhas já estão mal feitas, as sobrancelhas estão compridas, e os cabelos não estão mais sedosos...é hora do retorno! Retorno à realidade: ao nome e sobrenome, profissão, endereço, trabalho, terra firme...
Feliz 2012 a todos!!! Posso dizer que estou renovada para arregaçar as mangas, retomar a rotina e colocar em prática as “promessas” de réveillon

A.D.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Terapia online

Terapia online
Acho que a coisa mais difícil que tem é encararmos nossos sentimentos. Sabe? Falar em voz alta e ouvir o quanto parecemos idiotas? É tão difícil que eu estava usando “nós” agora no começo, quando na verdade deveria dizer “eu”. Acho que generalizar é isso, jogar nas costas dos outros algo que no fundo só quem acha é você.
Eu venho descobrindo que sou minha maior inimiga, eu me julgo, eu me saboto e eu sou dura comigo, sempre. Eu tenho diversos medos, e fico fugindo o quanto posso, mas isso não resolve. Fugir não resolve.
Eu estava pensando o quanto eu tenho medo de mudanças. E como uma boa fujona, é claro que tenho uma desculpa pra isso também -> todo mundo tem, em certo grau, um medinho do novo, do desconhecido e tal, super normal! <- Mas o fato é que eu fujo do “novo” mesmo! Até começo a enxergar o lado bom das coisas ruins só pra não meter a cara no mundo e tentar algo diferente.
Estou fazendo isso agora, estou deixando de escrever várias coisas que passaram na mente só pra não materializar os sentimentos.
É mais difícil admitir meus erros para mim mesma do que admitir para os outros. E aqui tem um ato-falho, porque quando eu escrevi “erro”, na verdade eu estava pensando em “sentimentos”. É como se eu achasse que meus sentimentos fossem errados. Sei lá. Mas é isso. Deve ser por isso que eu me importo com a opinião alheia.
Ultimamente eu tô fugindo de mim. Fiz coisas que me arrependi. Me senti um lixo. Chorei. E passou. Será? Acho que não passou não.
Sim sim, estou pensando e sentindo algo que eu não gostaria que estivesse, estou buscando responder perguntas as quais eu já sei as respostas, só tenho medo de admitir. Medo porque exigem mudanças, e já falamos disso hoje né?
Foi difícil achar uma imagem que tivesse a ver com o texto. Essa não diz tudo, mas diz um pouco:


PS.: sou péssima para títulos, então...